Frio e os vírus respiratórios

O El Niño de 2023-2024 foi considerado o quarto evento El Niño-Oscilação Sul mais poderoso registado na história, resultando em secas generalizadas pelo país e inundações como as que vimos em nosso Estado. Também nesse ano vimos um inverno “como antigamente” – muitas semanas com persistência de frentes frias derrubando temperaturas que se aproximam de zero graus ou menos. 


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Mas não comentarei sobre o clima, sobre isso temos excelentes profissionais e pesquisadores na nossa UFSM que podem nos dar explicações sobre as eventuais diferenças nos padrões do clima ou se isso é efeito desde já das mudanças climáticas, particularmente do aquecimento global.


Trato de saúde, e por isso lembro que neste período, especialmente com o frio prolongado, vemos aumento de casos de gripe (vírus Influenza), resfriado (diferentes vírus) e covid, sim o coronavírus da epidemia ainda está entre nós. E com aumento de casos em muitos Estados.


Esse ano foram contabilizadas quase 4 mil mortes por esse vírus. Se juntando ao vírus Influenza da gripe e ao vírus sincicial respiratório (VSR) como causa importante de síndrome respiratória aguda grave (SRAG), especialmente em idosos.


Prevenção

Como diria Dr. Anthony Fauci, por muitos anos diretor do Instituto de Saúde (NIH) dos Estados Unidos, para vírus, em especial os que causam impacto em saúde pública, a melhor estratégia é vacina.


Como todos sabem, temos vacinas muito eficazes para gripe e para a covid-19, e ambas ajudam a prevenir doença grave (pneumonia), hospitalizações e mortes. Mas elas não impedem completamente de contrairmos o vírus, embora os estudos demonstrem que reduzem também a transmissão.


Em abril, a ANVISA (Agência Nacional de Vigilância Sanitária) aprovou a primeira vacina também contra o VSR no país. Esse vírus é o causador da bronquiolite dos bebês, gerador de muita apreensão nos pais e causa de lotação de emergências pediátricas no inverno. 


Esse imunizante indicado então para gestantes tem eficácia de mais de 80 % na proteção de bebês de até três meses de vida, e de 70% naqueles de três a seis meses. Mas a vacina contra o VSR também é indicada para prevenir os idosos de desenvolverem uma pneumonia por esse agente. Esperamos com ansiedade o Ministério da Saúde incluir essa vacina em nosso calendário vacinal.

Cuidados

Alguns cuidados simples são importantes para reduzir os riscos de contágio e contribuir com uma menor disseminação desses vírus. Muitos deles lembramos durante a pandemia da covid.


O primeiro cuidado: mantenha uma boa etiqueta respiratória: caso esteja doente, com sintomas gripais, evite ir ao trabalho presencial. Não exponha com isso pessoas idosas ou vulneráveis, cubra o nariz e boca ao tossir e espirrar (nesse caso, com o braço, não com a mão) e, se possível, use uma máscara.


Segundo cuidado: higiene das mãos, pois muitos casos são transmitidos após tocar objetos e locais contaminados (corrimões de escada, botões de elevado, barras de apoio no transporte público) – onde pessoas doentes encostaram– e levar a mão à boca e ao nariz.


E o terceiro: mantenha-se bem agasalhado. Como bem nos ensina a climatologia médica, proteger pés e tórax é fundamental como atitude preventiva. É através da mudança física desses sítios que nos tornamos mais vulneráveis às infecções respiratórias como a pneumonia. Vale aqui mesmo a velha tradição da Medicina Chinesa de ascaldar os pés.


O próprio Hipócrates, pai da Medicina, em sua célebre obra “Ares, águas e lugares” (HIPPOCRATE, 1999) já lembrava do clima como um fator determinante nas doenças específicas de cada lugar. Há cerca de 2.500 anos, propunha observar de modo cuidadoso o ambiente físico, o lugar, a estação do ano, o estado da atmosfera e outras relações.


Solidão e AVC

Pode parecer duas questões sem ligação, mas talvez o “mal do século” tenha uma repercussão ainda maior na saúde humana.


Segundo um estudo publicado em junho na revista Clinical Medicine, adultos com mais de 50 anos que relatam níveis elevados de solidão têm um risco 56% maior de acidente vascular cerebral (AVC). Por óbvio, o aumento do risco de AVC não foi observado em indivíduos que relataram sentir solidão ocasionais, é a solidão crônica que impulsiona a associação.


Embora muitos vieses podem ser possíveis nessa abordagem, que os tipos de personalidade podem, por exemplo, ser relevantes, não há dúvidas que solidão crônica pode causar estresse, e esses, por períodos prolongados, aumentam os fatores que aumentam o risco de doença cerebrovascular.


Resistência bacteriana

A cada ano, cerca de 7,7 milhões de pessoas morrem por causas atribuídas a infecções bacterianas. Dessas, 1,27 milhões são associadas à presença de bactérias resistentes aos antibióticos.


Curioso é que um novo estudo, publicado na revista inglesa Lancet, mostra, porém, que medidas como vacinação e acesso a saneamento básico podem reduzir cerca de 750 mil mortes.


Como isso afeta em especial as classes mais pobres dos países, medidas relativamente simples podem ser implementadas para reduzir essas mortes. Vacinação por exemplo, previne hospitalizações ou impede o prolongamento hospitalar que é associado à aquisição de germes hospitalares.


Mas é importante lembrar que a principal causa de aparecimento de bactérias resistentes é o próprio uso de antibióticos – é ele que cria pressão seletiva e faz emergir formas mutantes. E em muitas situações há o uso inadequado em cenários que não há necessidade de uso.

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